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sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Contexto das Diferentes Aprendizagens - Texto 3

CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA
 E DAS NEUROCIÊNCIAS PARA O PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM

                                               Andréia Gonçalves
                                                   Educadora Especial
                                                              Terapeuta em Estimulação Precoce
                                                Psicopedagoga



     Diga-me, eu esquecerei.
     Mostra-me,  eu me lembrarei.
                  Mas envolva-me, eu entenderei. (Confúcio)


          Este capítulo tem o objetivo de contribuir com a prática educacional oferecendo subsídios teóricos e estratégicos, através de um olhar psicopedagógico vinculado aos aspectos neurofuncionais sobre o processo de aprender e não-aprender do sujeito em sala de aula, instrumentalizando o educador frente aos novos desafios de ensinar no século XXI.

                      Como afirma José Esteves em sua obra: A Terceira Revolução Educacional (2004) estamos vivendo um período singular no processo educacional no mundo onde o acesso a educação passou a ser visto não só como um direito ao ingresso, mas também de permanência e que esta seja sinônima de sucesso escolar. Não é mais suficiente que o aluno seja recebido apenas burocraticamente na escola, mas que participe efetivamente do processo de ensino e aprendizagem e dele absorva instrumentos e ferramentas para viver ativamente em sociedade.

Será através deste novo olhar a cerca deste sujeito em sala de aula portador de suas singularidades orgânicas, funcionais ou sintomáticas, que a educação poderá construir um novo caminho frente aos desafios de diversificar a visão diante cada aluno, que possibilitará igualdade de oportunidades de aprendizagem.

A reflexão sobre as descobertas do paradigma das neurociências sustenta esta nova abordagem contribuindo de forma muito significativa ao profissional da educação. Pois é imprescindível que estes se apropriem de conhecimentos referentes aos aspectos sustentadores e possibilitadores do ato de aprender ou não-aprender, para que assim possam realmente propiciar um processo de inclusão escolar de forma significativa e plena para cada aluno.

Para Alicia Fernandez (1990) o ato de aprender deve considerar alguns pressupostos fundamentais como a necessidade de um corpo ativo, funcional e significativo capaz de interagir com o objeto de conhecimento; organicamente, condições biológicas para que a aprendizagem possa se sustentar e acontecer efetivamente; a inteligência, entendida como a capacidade do sujeito em tornar significativa as informações apreendidas, fazendo uso destas em sua vida e o desejo, pois sem o despertar do desejo do conhecer o aprender não se estruturará impossibilitando que o sujeito responda diante dos objetos de conhecimento. O despertar do desejo surge diretamente na relação de um Sujeito com o Outro acontecendo primeiramente com a família e depois com o educador, que será responsável em estimular neste sujeito o desejo em fazer parte significativa do mundo no qual está inserido.

Conhecer como o cérebro humano e seus mecanismos neurofuncionais acontecem é fundamental para a estruturação de uma prática escolar que venha potencializar e beneficiar o processo de ensino e aprendizagem.

Os estudos das neurociências trouxeram aspectos fundamentais para um novo olhar a cerca do sujeito e de sua relação com o Outro, ou seja, o aprender com o mundo. O principal aspecto refere-se às influências das questões genéticas como fator determinante no desenvolvimento de um indivíduo.

Atualmente já é comprovado que tais fatores têm equivalente importância, com a influência dos aspectos ambientais, na determinação de como um sujeito poderá relacionar-se diante do mundo ao seu redor. Portanto, é fundamental pensarmos que qualquer pessoa necessita de um ambiente enriquecido para ativar e potencializar mecanismos instrumentais e/ou estruturais que farão parte de sua constituição como um indivíduo autor de conhecimento.

O indivíduo portador de um diagnóstico durante muitas décadas foi visto como um sujeito pelo olhar de suas impossibilidades e de suas deficiências. Assim eram estruturadas as propostas de intervenção sejam elas na esfera clínica, médica ou escolar. Concretizado até mesmo na nomenclatura adotada para caracterizá-los seja como doentes mentais, mongolóides, deficientes mentais, portadores de necessidades especiais, portadores de necessidades educativas especiais, NEE, PNEE, entre outros.


Através deste novo olhar sustentado pelas descobertas das neurociências, sugere-se uma nova nomenclatura abrindo-se espaço para o possível, para a necessidade de o Outro descobrir naquele sujeito com diagnóstico, não uma lista de sintomas que determinam seu presente, passado e futuro, mas um sujeito repleto de possibilidades com suas características e singularidades, hoje reconhecidas como PORTADORES DE OUTRAS EFICIÊNCIAS cabendo a cada um de nós descobrirmos como potencializar e principalmente possibilitar o seu desenvolvimento.

Quando se propõe um trabalho com pessoas portadoras de outras eficiências é fundamental perceber que o sucesso estará relacionado à soma de estímulos neurais significativos com estímulos vinculados ao campo emocional e somente assim estaremos possibilitando focar nas eficiências destes sujeitos que antes de apresentarem diagnósticos são indivíduos únicos e repletos de possibilidades.
 
O Cérebro é um órgão plástico e seu desenvolvimento ocorre em todas as etapas da vida evidenciando a capacidade do cérebro em se adaptar em resposta as experiências vividas, responsável pela capacidade do ser humano em aprender e reabilitar funções diversas, sejam elas cognitivas, psicomotoras ou sensoriais.  Estes conceitos, hoje bem claros e definidos diante a neuroplasticidade, sustenta a importância de um ambiente motivacional e enriquecido como preponderante para o desenvolvimento humano.

Sabendo-se que aprender é um processo constante para toda vida e que antes de tudo deve ser visto como um ato de plasticidade, ou seja, uma experiência de aprendizagem significativa desencadeia no sistema nervoso central modificações funcionais e neuroquímicas mais ou menos permanentes, modulado pela combinação dos fatores intrínsecos e extrínsecos a este sujeito, caracterizando assim, a importância deste sujeito estar inserido em um ambiente que equilibre tais fatores e beneficie assim seu desenvolvimento global.

E, fazer uso na prática escolar destes conhecimentos referentes ao potencial plástico do cérebro, beneficiará não só o aluno com algum quadro diagnóstico como tais conhecimentos que sustentarão a prática didática potencializarão a aprendizagem de todos os alunos, tornando-a mais significativa.

Outra relevante contribuição das neurociências para a prática educacional com alunos portadores de outras eficiências, refere-se a descoberta dos  neurônios espelho. Localizados em regiões específicas do cérebro localizadas no córtex pré-motor, pariental inferior abrangendo as áreas de Broca e Wernicke.  São ativados em situações que ocorre a observação de ações realizadas por terceiros, ou seja, o cérebro é ativado pela capacidade em simular internamente ações.

Cabe ressaltar também a relação dos neurônios espelho com quadros de autismo, uma vez que, está intimamente ligada a capacidade de perceber intenções, habilidades sociais e linguagem. Neste quadro de diagnóstico, podemos compará-los com “espelhos trincados” dificultando nestes sujeitos a realização das habilidades de empatia, linguagem, percepção, psicomotoras e sociais.

Transferindo este conceito para a prática educacional, destacando a teoria de Ana Teberosky, em que cita a respeito no processo de aquisição da lecto-escrita, a importância de vermos nossos alunos como escritores e leitores antes mesmo que sejam capazes de fazê-lo, ou seja, possibilitar situações de reequilibração cognitiva diante de experiências escolares que ativam neurônios espelho, ocasionando ativações neurológicas e conseqüentemente possibilidades de conexões sinápticas que potencializarão seu desenvolvimento, pois a capacidade de imitação é fundamental para o processo de aprendizagem e desenvolvimento humano.

Segundo os pressupostos neurofuncionais, para que o ato de aprender aconteça é necessário que existam, de forma integra, algumas habilidades como a memória, considerando suas etapas de aquisição ou decodificação; a consolidação e a evocação, que são responsáveis pela capacidade de um Sujeito estabelecer redes de conexões neurológicas capazes de estruturar as informações apreendidas, que irão sustentar os três tipos memória: memória de trabalho, memória de curto e de longo prazo. Porém, a habilidade de memória somente poderá funcionar de forma apropriada se os níveis de motivação, ansiedade e atenção apresentarem-se adequadas.

Considerando a habilidade neurofuncional de atenção, nota-se ser a primeira habilidade a atingir grau de maturação diante das etapas de atenção involuntária, da voluntária instável até atingir a capacidade de atenção voluntária estável e está intimamente relacionada à região cerebral do tronco encefálico.

Esta habilidade neurofuncional pode ser classificada em três etapas: a atenção seletiva, como a capacidade de selecionar um foco diante a presença de diversos estímulos; a atenção sustentada, sendo esta a habilidade em manter a atenção com qualidade por determinado período e tempo; e a atenção dividida definida como a habilidade de um indivíduo em realizar simultaneamente mais de duas atividades com qualidade.

 Tomar conhecimento do funcionamento do cérebro, e como é possível um aluno ativar ou muitas vezes inibir seu funcionamento, é fundamental para um profissional da educação no momento de estabelecer estratégias didáticas diante sua prática, pois freqüentemente situações simples de adaptações curriculares de pequeno porte potencializam significativamente o desempenho de alunos no ambiente escolar.
  
É relevante destacar que esta breve reflexão não buscou sanar todas as incertezas e angústias do educador à cerca de seu novo papel, mas encorajá-lo na busca de novas possibilidades a partir do não aprender, que este não seja visto como algo determinante, mas como um desafio, um novo caminho a ser trilhado que atenda as necessidades deste sujeito, promovendo a auto-estima do educador e do educando.

O educador para ensinar deve também estar imbuído de conhecimentos que permita diversificar e criar estratégias de intervenção no ambiente escolar, garantindo a igualdade de possibilidades do aprender deste aluno, em uma busca constante de crescimento pessoal e profissional.

REFERÊNCIAS
ESTEVE, M.J. A Terceita Revolução Educacional: A Educação na Sociedade do Conhecimento.Moderna São Paulo,2004.
SENNYEY,L.A.;MENDONÇA,Z.I.L.;SCHLECHT,G.B.B.;SANTOS,F.E.;MACEDO, C. E. Neuropsicologia e Inclusão; Tecnologias em (re)habilitação cognitiva. Artes Médicas São Paulo, 2007
RELVAS, P. M. Neurociência e Transtornos de Aprendizagem: As Múltiplas Eficiências para ma Educação Inclusiva. WAK Editora Rio de Janeiro, 2008.
RELVAS, P. M. Fundamentos Biológicos da Educação. WAK Editora Rio de Janeiro, 2008.

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