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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Universo Pedagógico - 1º Ciclo - Texto 1

O APRENDER SUAS DIFERENTES FORMAS E SEUS DIFERENTES MOMENTOS

MARIA LUCIA LEMME WEISS

O tema é ao mesmo tempo muito amplo e muito profundo, remete-nos ao ser humano ao longo de sua vida quando em cada momento necessita de todos os seus recursos disponíveis para sobreviver, nas mais diferentes épocas da História da Humanidade. Como sempre explicita Sara Pain o que permite a sobrevivência do homem é a aprendizagem, ou seja, a possibilidade de usar a sua capacidade de aprender, de diferentes formas e nos diferentes momentos ao longo de sua própria vida.
O momento de cada aprendizagem sempre se entrecruza com as formas de aprender, são inseparáveis. Será simples formalização falarmos separadamente Duas visões de momentos de aprendizagem me ocorrem relacionadas com o olhar sobre os eixos horizontal e o vertical da vida de cada um de nós:

1º eixo: Partindo do “aqui e agora” de cada um de nós, ou seja, o momento presente que vivemos em qualquer situação social onde se dá uma nova aprendizagem, este momento será sempre envolvido por momentos passados e momentos futuros, ou seja todo segmento de conduta (J. Bleger) tem o hoje, teve um ontem e terá um amanhã. Esse corte em nossas vidas, carregado de nossas motivações definirá a aprendizagem do momento ou mesmo a possibilidade de mostrarmos o que aprendemos e acumulamos, ou seja, o que podemos mostrar nesse momento.
Voltaremos a questões básicas da Psicologia com o estudo da MOTIVAÇÃO: ligadas às necessidades básicas do ser humano que lhe garantirão a sua sobrevivência e a da espécie e as motivações ditas secundárias que lhe permitirão o equilíbrio afetivo social dando o caminho da Felicidade (A.H.Maslow).
No dizer de M.D. Vernon, a motivação é “a força interna que emerge, regula e sustenta todas as nossas ações”, será o motor, o dínamo de nossas vidas em cada momento.
A relação entre motivação e desejo de aprender e o momento em que é apresentado o novo objeto do conhecimento seja ele escolar ou de fora da escola definirá em parte essa relação e a realização ou não de uma nova aprendizagem.
Várias possibilidades de formação de dificuldades de aprendizagem ocorrerão:
A - A motivação do sujeito não é satisfeita dentro dos padrões esperados por ele, assim o sujeito rechaça o objeto do conhecimento. Por exemplo: é comum acontecer na alfabetização e em conhecimentos matemáticos.
B - O sujeito entra na situação sem interesse, indiferente ao que está acontecendo, desvia a atenção para outra coisa, fica aéreo, etc.
C - O sujeito entra reagindo contra o que está acontecendo na situação ou mesmo já antenado em direção a outro objeto.
D - O sujeito entra na situação de aprendizagem bastante motivado, mas seu nível de resistência à qualquer tipo de frustração é muito baixo e ele no primeiro erro se desmobiliza para aquele momento de aprendizagem.

O acumulo de frustrações vindo de pequenos e freqüentes erros, correções públicas inconvenientes, falas inadequadas de alguns professores, etc podem gerar grande ansiedade em algumas situações de aprendizagem. Todo excesso de ansiedade gera mecanismos de defesa. Entre os mecanismos de defesa, comuns na vida escolar, estão: saída do campo de ação pela fantasia, deslocamento da atenção, agitação, paralisação e lentidão.
O processo de aprender, segundo J.Bleger envolve sempre três momentos básicos, de duração indefinida, o confusional, o de discriminação e o de integração. Enfatizamos sempre para as escolas que é indispensável a existências de tarefas e exercícios específicos chamados de fixação para que o aluno, dentro de seu próprio ritmo, possa ter tempo de discriminar o novo objeto do conhecimento e assim integrá-lo aos seus conhecimentos anteriores. É um grande erro pedagógico e psicológico o uso de questões de avaliação do conhecimento logo após o termino de “explicação de matéria nova”. É sempre melhor repetir novos conteúdos de outra forma antes de tentar avaliá-los. As repetições facilitam o processo de discriminação e de integração de conteúdos da aprendizagem. Os usos da memória e do raciocínio são sempre indispensáveis.
O melhor aluno de uma turma ou da escola, como qualquer ser humano, pode estar vivendo em determinado dia e horário uma situação emocional inadequada para novas aprendizagens, por razões extra escolares. É indispensável o respeito a esses momentos e não forçar o seu envolvimento de modo inadequado, o que pode gerar formações reativas imprevistas.
Premissa básica: ninguém aprende se não estiver motivado para isso. As decorrências desta constatação estarão na aprendizagem familiar, escolar, profissional, clínica e em outras situações. A motivação para aprender, em qualquer momento, é que permitirá a construção de vínculos positivos, adequados com o objeto do conhecimento, construindo sempre na direção do desejo de aprender para o prazer de aprender e finalmente para o prazer de mostrar que aprendeu.

2º eixo: estruturante de momentos da aprendizagem é vertical, é evolutivo, é o próprio desenvolvimento do ser humano. Estará também ligado a historia de vida de cada um, é a construção do próprio ECRO, (P.Rivière), a partir dele passamos a construir todas as novas aprendizagens. Em cada momento evolutivo o ser humano terá possibilidades orgânicas, fisiológicas que na interação com seu meio ambiente lhe definirão suas possibilidades de aprendizagem numa visão construtivista.
Diferentes campos do conhecimento explicarão os momentos evolutivos do ser humano em seus vários domínios envolvidos na aprendizagem, assim, entre outros destacamos: Biologia, Fisiologia, Neurologia, Sociologia, Psicologia, Psicanálise, Epistemologia, Lingüística, Psicopedagogia.
O que poderá aprender uma criança, um adolescente um adulto, um idoso?
Quais as verdadeiras possibilidades e limites? O que dizer da criança prodígio ou do arquiteto genial Oscar Niemeyer completando 100 anos aprendendo e criando?

II - AS DIFERENTES FORMAS DE APRENDER estarão na relação entre as diversas possibilidades do sujeito de chegar ao objeto do conhecimento e a maneira pela qual o objeto do conhecimento é apresentado ao sujeito. Nessa situação de dois pólos para que a aprendizagem aconteça, vamos novamente lidar com os domínios integrados do processo de aprendizagem: orgânico, cognitivo, afetivo-social.
Com o desenvolvimento da neuropsicologia cada vez mais vamos entender os caminhos da aprendizagem. As diferentes formas vão estar ligadas na linguagem da informática “entrada - processamento – saída”, a partir das diferenças, igualdades e deficiências orgânicas e psicológicas é que se definirão as diferentes FORMAS DE APRENDER.
Nos caminhos da cognição na cadeia atenção – percepção – raciocínio – memória vamos encontrar diferentes portas de entrada que funcionarão isoladamente ou em conjunto integrado: visual, auditiva, olfativa, gustativa e tátil. As formas de raciocinar também estarão ligadas. Cada um de nós terá a sua melhor “porta de entrada”, a sua forma de fixar na memória, o melhor caminho de estabelecer relações lógicas, a melhor “saída” ou forma de expressar o que aprendeu, assim como já foi dito o seu melhor momento de aprender.
Não existe uma forma padrão de aprender, por essa razão a grande importância da pessoa do professor. É o professor que se atento, sensível e competente perceberá os diferentes caminhos de seus alunos. É ele quem põe o livro didático, filmes conteúdos de Internet, etc “traduzidos” para o conhecimento dos seus alunos. Buscará diferentes formas de apresentar o novo conteúdo escolar; ora falando ou lendo (mais auditivo), ora escrevendo, desenhando, mostrando figuras, filmes, etc (mais visual), ora buscando relações entre fatos, relações coma vida diária, repetirá o mesmo conteúdo de diferentes formas etc E ele que deve ajustar as diferentes formas de aprender e trabalhar dos alunos na organização de grupos de estudo e trabalho de suas turmas.
Cada um de nós buscará o seu melhor caminho de entrada do conhecimento, a melhor maneira de fixá-los a melhor forma de mostrar o conhecimento aprendido. Essas formas de aprender são fundamentais no trabalho de inclusão escolar ou de inclusão no mercado de trabalho.
Na clínica psicopedagógica é fundamental o terapeuta localizar a melhor forma de aprendizagem de seu cliente para poder assim ter um canal aberto para a aprendizagem escolar e posteriormente tentar integrar as diferentes formas num processo facilitador. É preciso valorizar a melhor forma de expressão do paciente para que ele paulatinamente consiga se expressar pela escrita que é a exigência básica da escola.
A proposta da Epistemologia Convergente de Jorge Visca tem esse aspecto integrador de diferentes formas e dos diferentes momentos de aprendizagem. O grande filósofo da Educação J. Dewey já dizia: “EDUCAÇÃO É VIDA”. Pela influência que suas idéias tiveram nas escolas brasileiras podemos entender como “Aprendizagem é vida”. Já Pichon Rivière que influenciou a construção de uma Psicopedagogia construtivista afirmava “Toda aprendizagem é terapêutica e toda terapia é uma aprendizagem”.
Acredito que o trabalho psicopedagógico escolar e clínico têm em comum a tarefa de refazer os caminhos do aprender na vida para chegar com o sucesso no aprender escolar.
Palestra realizada a 16 de junho de 2007 em
Seminário da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA - SEÇÃO RIO DE JANEIRO

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